A importância estratégica dos elementos de terras raras os colocou no centro de uma renovada confrontação econômica entre os Estados Unidos e a China. Esses minerais essenciais, vitais para a produção de eletrônicos avançados, sistemas militares e tecnologias de energia limpa, tornaram-se tanto um ativo quanto uma arma em uma crescente disputa geopolítica. Em junho de 2025, o cenário global dos elementos de terras raras reflete uma competição intensa, com sérias implicações para a segurança econômica, soberania tecnológica e dinâmica do comércio internacional.
Atualmente, a China controla aproximadamente 70% da produção e capacidade de processamento global de terras raras, uma posição que mantém graças ao apoio estatal, investimentos em recursos e uma infraestrutura de exportação robusta. Esse domínio permite a Pequim influenciar a oferta e os preços de mercado, transformando efetivamente esses minerais em uma ferramenta de negociação geopolítica.
Ao longo dos anos, a China demonstrou estar disposta a utilizar as terras raras de maneira estratégica. Em disputas comerciais anteriores, restrições de exportação foram utilizadas para exercer pressão. Hoje, com as tensões geopolíticas em escalada, a política chinesa para os elementos de terras raras continua sendo uma alavanca econômica significativa, especialmente sobre nações dependentes desses materiais críticos.
As últimas medidas do governo chinês incluem investimentos nas cadeias de fornecimento a jusante e no desenvolvimento de componentes que utilizam terras raras dentro do país, garantindo que o valor agregado permaneça em sua economia industrial. Ao mesmo tempo, os controles de exportação tornaram-se mais seletivos, com uma análise rigorosa dos compradores e das finalidades do uso.
A dependência global das terras raras chinesas tem gerado preocupação, especialmente em Washington e nas capitais aliadas. Apesar das iniciativas de diversificação da oferta, os custos, a complexidade e os desafios ambientais da mineração de terras raras são consideráveis. As alternativas são limitadas e de difícil escalonamento em curto prazo.
As indústrias mais expostas a essa dependência incluem os setores de defesa, automotivo (especialmente veículos elétricos) e de energia renovável. Uma interrupção repentina no comércio de terras raras pode causar atrasos na produção, aumento de custos e vulnerabilidades estratégicas nas cadeias de suprimento críticas.
Para mitigar esses riscos, diversos países implementaram políticas para incentivar a extração e o processamento de terras raras em seus próprios territórios ou por meio de parcerias confiáveis. No entanto, romper o monopólio chinês continua sendo um desafio de longo prazo que exige investimentos constantes e cooperação internacional.
Os Estados Unidos responderam ao desafio das terras raras com uma abordagem agressiva em busca da autossuficiência. O Inflation Reduction Act, o CHIPS Act e outras iniciativas bipartidárias destinaram bilhões de dólares ao desenvolvimento de recursos internos, energia limpa e minerais estratégicos.
Em 2025, projetos de mineração em estados como Texas, Califórnia e Alasca estão recebendo apoio federal para acelerar a extração e o refino desses materiais. Ao mesmo tempo, parcerias com Austrália, Canadá e União Europeia buscam estabelecer corredores de fornecimento seguros, apoiados por contratos de fornecimento de longo prazo e joint ventures.
No nível federal, o Pentágono continua a priorizar as terras raras em sua estratégia de produção de defesa, garantindo acesso seguro para tecnologias militares sensíveis. Diretrizes recentes exigem fontes diversificadas e redução da dependência de materiais de origem chinesa em contratos de defesa e aeroespaciais.
Apesar dos avanços, os EUA enfrentam inúmeros obstáculos. A criação de infraestrutura para terras raras leva anos, e questões como licenciamento ambiental, oposição pública e necessidade de capital representam desafios significativos. Assim, o país ainda depende fortemente de materiais importados.
Faltam também tecnologias eficientes de refino e separação, o que limita a competitividade dos produtores ocidentais. Embora os investimentos em P&D estejam aumentando, a escalabilidade de tecnologias de processamento viáveis e ambientalmente seguras continua sendo um gargalo crítico.
A escassez de mão de obra especializada complica ainda mais o esforço. A metalurgia de terras raras exige profissionais altamente treinados – engenheiros, geólogos e técnicos –, que estão em falta em muitos países do Ocidente.
À medida que as terras raras se tornam cada vez mais entrelaçadas com a segurança nacional, a economia global testemunha uma mudança nas alianças estratégicas e nas prioridades de investimento. Novos participantes como Índia, Vietnã e Brasil estão se posicionando como fornecedores alternativos, buscando capital estrangeiro e know-how técnico para explorar suas reservas.
Em resposta, a China também está diversificando suas operações no exterior, assegurando participações em minas na África e no Sudeste Asiático. Essa estratégia de expansão permite a Pequim manter o controle das cadeias de suprimento, contornando possíveis bloqueios geopolíticos.
Enquanto isso, instituições internacionais pressionam pela criação de um mercado transparente e sustentável de terras raras, com padrões de rastreabilidade, salvaguardas ambientais e mecanismos antimonopólio para garantir concorrência justa e resiliência nas cadeias de suprimento.
O conflito em torno das terras raras é emblemático de uma tendência mais ampla de desacoplamento nas relações econômicas entre EUA e China. A corrida por autonomia nas cadeias de suprimento pode levar à formação de novos blocos comerciais e alianças tecnológicas estratégicas, remodelando o comércio global nos próximos anos.
Se o Ocidente conseguir diversificar o fornecimento e expandir a capacidade de processamento, a influência da China poderá diminuir gradualmente. No entanto, até lá, Pequim continuará a ocupar uma posição poderosa, que pode ser usada como arma econômica em caso de agravamento das tensões.
No fim das contas, os elementos de terras raras continuarão a desempenhar um papel central na ordem econômica global. A corrida pelo controle desses recursos estratégicos diz respeito não apenas à tecnologia, mas também à influência, ao poder e ao equilíbrio geopolítico do futuro.